Saudosas pequenas – ATS, parte I

ATS-logo-EBD7D0A2F2-seeklogo.comRIO DE JANEIRO – Sigla para Auto Technisches Spezialzübehor, a ATS é uma marca de rodas esportivas que teve seu nome ligado por algum tempo à Fórmula 1, pois seu fundador Günther Schmidt montou uma equipe que disputou a categoria máxima entre 1977 e 1984. Não confundir esta ATS com a Auto Tecnica Sport, de origem italiana e fundada por Carlo Chiti (sempre este homem fatal!) e Romolo Tavoni, ambos demitidos por Enzo Ferrari nos anos 60, de breve vida na categoria.

Pioneira na confecção e construção de rodas de liga leve para os modelos Porsche e Volkswagen, a ATS desenvolveu as primeiras rodas de liga leve de alumínio para os modelos Mercedes-Benz AMG, preparados pela empresa de Hans-Werner Aufrecht – as famosas rodas “penta”, de cinco porcas, se tornaram um ícone na Alemanha. Em paralelo a esta atividade frenética, sobrou tempo para Gunther Schmidt assumir o espólio europeu da Penske, e com ele iniciar a trajetória do time na Fórmula 1.

Ausente das três primeiras corridas do ano, disputadas respectivamente na Argentina, no Brasil e na África do Sul, a ATS fez sua estreia no GP dos EUA-Oeste, em Long Beach, com o chassi Penske PC4 de 1976, projeto de Geoff Ferris para o time de Roger Penske, que perdera o patrocínio do banco First National City para a Tyrrell e por isso a equipe estadunidense voltara para a USAC, precursora da Fórmula Indy.

11508426602551Com o PC4, Jarier largou em 9º e logo em sua primeira corrida com o bólido amarelo número #34, marcou o primeiro ponto da nova equipe. E mostrando o quanto a F-1 era competitiva naqueles tempos, o francês sequer conseguiu um lugar no grid para a corrida seguinte, em Jarama, na Espanha.

O desempenho de Jarier era de razoável para bom nos treinos, com direito a colocar o ATS Penske PC4 em 12º em Mônaco e na Alemanha, mas nas corridas os resultados eram apenas medianos, um pouco longe da zona de pontos. E num esforço hercúleo, Günther Schmidt preparou um segundo carro, para Hans Heyer, na corrida caseira do time, em Hockenheim.

77DE-A046A participação de Heyer a bordo do ATS merece ser lembrada. Ele não se classificou para a largada – aliás, nem o bicampeão mundial Emerson Fittipaldi – e era o terceiro reserva, aguardando por uma quebra ou acidente no warm up para poder largar. Com as desistências de Patrick Neve e Emilio de Villota, Hans Heyer alinhou o carro amarelo #35 no fundo do grid e arrancou junto com o resto do pelotão de 24 carros, achando que com a colisão entre Alan Jones e Clay Regazzoni ele teria direito de competir. Não tinha: Heyer incrivelmente chegou a andar na frente do March de Ian Scheckter e da McLaren M23 de Brett Lunger, antes de ser desclassificado.

A ATS continuou com dois carros até o GP da Itália: Hans Binder assumiu o volante e após o 6º lugar de Jarier em Long Beach, foi o responsável pelo segundo melhor resultado do time, com a oitava posição no GP da Holanda, em Zandvoort. A equipe decidiu não competir nas três últimas provas de 1977, para se preparar melhor com vistas ao campeonato de 1978.

1306421660_hs1-1978Para aquele ano, Günther Schmidt novamente não teve muito trabalho para a construção de um carro. A March estava encerrando suas atividades na Fórmula 1 e tinha o modelo 781 totalmente pronto. Não foi difícil para que o projeto de Robin Herd fosse rebatizado como o ATS HS1 e a equipe entrou no campeonato com dois carros, novamente para Jean-Pierre Jarier e o recém-chegado Jochen Mass, demitido da McLaren.

Nas primeiras quatro corridas do ano, os dois pilotos conseguiam lugares bastante razoáveis entre os classificados e os melhores resultados foram um 7º lugar de Mass em Jacarepaguá e um oitavo de Jarier, em Kyalami. Após o GP de Mônaco, onde os dois experientes pilotos não se qualificaram, Jarier teve uma discussão forte com Günther Schmidt e foi demitido.

O italiano Alberto Colombo, oriundo da Fórmula 2, pegou a vaga do “Jumper”, mas não foi feliz ao não se qualificar na Espanha e na Bélgica. Também foi despedido e entrou em seu lugar o finlandês Keke Rosberg, outro novato, também com passagem pela F-2 – e que vencera no mesmo ano de 1978 a Corrida dos Campeões, sob um temporal inclemente, a bordo de um Theodore, em Silverstone.

Com Mass e Rosberg a bordo, a ATS voltou a qualificar os dois carros, tendo o seu grande momento do ano no GP da Inglaterra, em Brands Hatch, onde Keke partiu do 22º lugar do grid e chegou a andar, surpreendentemente, na quarta posição, entre as voltas 40 e 48 e logo depois em quinto, até a 58ª volta, quando seu carro teve problemas e ele abandonou.

5786889660_f63b8d5a47_zA grande performance de Keke em Brands não sustentou o finlandês por muito tempo na equipe e Jarier pediu desculpas a Günther Schmidt para voltar no GP da Alemanha, não se qualificar, brigar de novo e ser novamente despedido! Esse francês não era fácil…

A ciranda de pilotos não parou: na Áustria, onde os dois HS1 não se qualificaram, o local Hans Binder voltou à equipe ao lado de Jochen Mass. Em Zandvoort, entrou o holandês Michael Bleekemolen e Mass, vítima de uma perna quebrada num teste, deixou a equipe antes do fim do campeonato. O folclórico Harald Ertl, de bigodes e barba imensos, reapareceu na Itália e não se classificou.

Enquanto o obsoleto HS1 continuava sua odisseia até o fim do ano nas mãos de Michael Bleekemolen, conseguindo enfim correr em Watkins Glen, a equipe apresentou o primeiro chassis “100% ATS”, o D1, um projeto de John Gentry e Gustav Brunner.

Este carro, pretensamente apontado como mais um modelo construído dentro da proposta de efeito-solo lançada pela Lotus, foi um equívoco só, porque radiadores, tanque de combustível e sistemas de escapamento estavam muito próximos, anulando o desempenho desejado.

Keke Rosburg in the ATS-Ford, During Qualifying for the US GP atApesar disto, Keke Rosberg ainda qualificou o D1 em 15º no grid da corrida de Watkins Glen, abandonando com uma quebra de câmbio. Em Montreal, com seguidos problemas, o finlandês terminou a corrida, mas não recebeu classificação por não ter completado o limite mínimo de voltas.

Na segunda parte da história da ATS, virão as temporadas de 1979 e 1980.

6 respostas em “Saudosas pequenas – ATS, parte I

  1. Muito bacana estes posts. Valeu!

    Se possível, gostaria de saber mais sobre a participação da Penske na F1. Abs!

  2. é muito legal a colocação das equipes que um dia disputaram um campeonato mundial de corridas que se chamou de Fórmula-1….
    Apenas gostaria de confirmar se Emerson Fittipaldi não se classificou em mais um GP além do GP da Bélgica, de 1976, em Zolder

  3. Em São José do Rio Preto existe uma ATS que usa a mesmo logomarca apresentada aqui, mas neste caso se trata de uma competentíssima e vitoriosa preparadora de carro de arrancada, do mais alto nível no Brasil, com muitas e muitas vitórias no Paranaense, Paulista e Festivais Brasileiro em Curitiba. Me parece que são tbm as iniciais do preparador “Amauri T… S…..”

  4. Pingback: Saudosas pequenas – ATS, parte IV (final) | A Mil Por Hora

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